2007/12/29

Melhor comentário de 2007

Apenas o comentário que mais comoveu...

Comentários do leitor
De: Anelí
Título: Um grande e eterno amor
Comentários:
Em setembro de 1989 ele chegou na minha casa vindo de um canil quase morto, com bicheira nas duas patas dianteiras (mais de 100 bichinhos) além de descalcificação e falha nos pêlos.
Não comia nem bebia água e estava condenado.

A única coisa que fiz por ele foi dar água em uma seringa e colocar um pouquinho de carne moída em sua garganta. Como um milagre na manhã seguinte ele estava em pé e foi tratado com muito amor e carinho enquanto se recuperava da doença. ele ainda não era meu, apenas de coração. Assim que ele estava se recuperando foi vendido para um senhor que era de portugal, que depois de alguns dias o devolveu pois o achava um cão muito feio e maltratado.

O dono do canil tentou vende-lo por vários meses, nesse meio tempo eu ia buscá-lo nos finais de semana para ficar em minha casa. sempre que ele voltava para o canil ele ficava doente, tinha diarréias, não comia, mas quando vinha passar uns dias na minha casa ele melhorava. eu ainda não sabia o nome dele de registro, então começamos a chamá-lo de bundão, pois tinha uma linda pelagem na sua trazeira que parecia neve fofa.
Passaram-se meses nessa tentativa do canil vende-lo, até que um dia o dono do canil me ligou perguntando se eu queria ficar com ele, pois ele já tinha passado da época para venda, e era um cão que não serviria para procriar. Na mesma hora eu aceitei e fui buscá-lo. descobrimos no seu registro que seu nome era alison, mas acho que ele não gostava do nome, pois só atendia mesmo por bundão. bundão se tornou meu maior companheiro, nos piores e melhores momentos de minha vida ele esteve ao meu lado.
no nascimento da minha primeira filha marina ele estava comigo, e assim que ela chegou em casa ficou em pé ao lado do cesto dela e chorando, como se estivesse vendo a coisa mais linda do mundo. na minha segunda gravidez fiquei muito doente, quase morri, e ele ainda estava ao meu lado. Quando as gêmeas nasceram lá estava ele. Quando uma das gêmeas morreu, foi ele que suportou meu choro durante meses. sempre alegre, nunca ficava doente, nunca me deu trabalho. lembro quando ele entrava dentro da bacia de água e saía correndo molhando toda a casa. lembro quando ele ia me acordar de manha, pulando na minha cama e tirando minhas cobertas para brincar. quando roubou a parte de cima de meu biquini e fiquei p. Da vida com ele. no dia do meu noivado ele roubou um frango assado inteiro do almoço, teve um dia também que roubou meia peça de presunto de cima da mesa da cozinha. bundão amava peixe, muitas vezes comprávamos sardinhas frescas para ele se lambuzar. ele amou minhas filhas da mesma maneira que eu o amava, retribuindo todo o amor e carinho que ele sempre recebeu.

O tempo foi se passando e ele sempre lindo e alegre, foi ficando velho por fora, mas no seu interior ele sempre continuava uma criança. há aproximadamente 6 anos apareceu um tumor em seu ânus, e um veterinário queria operar, mas nessa cirurgia ele perderia o esfincter e achei que sua vida ficaria muito curta após esse problema; foi quando procurei outro veterinário o dr. Eduardo, que sugeriu um outro tratamento com hormônios femininos para a redução do tumor, mas já sabendo que estes não iriam desaparecer por completo, apenas se atenuarem. Foi o que resolvi fazer, pois sempre tomei todas as decisões a respeito do bundão. há cinco anos já achava que ele viveria pouco, pois lentamente ele estava envelhecendo por fora, fiz uma tatuagem enorme com a cara dele nas minhas costas que ficou linda para homenageá-lo.

Continuamos o tratamento, e nesse meio tempo eu tive uma doença que me levou a uma cirurgia, e, ainda assim ele estava ao meu lado. no mesmo dia que fiz minha cirurgia em campinas, um de seus tumores do rosto estourou e ele também entrou na faca. Mas quando eu voltei do hospital após uns 10 dias ele já estava bem para ficar ao meu lado enquanto eu me recuperava. ele foi ficando surdo, sua visão já não estava muito boa e suas pernas também já não suportavam tanto seu peso. Mas mesmo assim ele estava ao meu lado. Continuou com o tratamento contra o câncer, que agora ao invés de tomar o medicamento a cada 7 ou 8 meses passou a toma-lo em períodos cada vez mais curtos, de até 45 dias.

Mesmo assim continuava forte. por vezes eu lhe aplicava injeções para dores nas pernas e ele melhorava um pouco. quando se sentia disposto até descia as escadas de casa para ir ao jardim, mas a idade estava vencendo aquele espírito jovem que me acompanhava. todo ano que passava eu pedia para que ele passasse mais uma data comemorativa comigo, um natal, um dia das mães, um aniversário. dia 13 de abril foi meu aniversário, e ele estava ao meu lado, pois queria muito ele comigo nesta data. Minha filha mais nova perguntou o que mais eu tinha gostado em meu aniversário e eu disse que foi a presença do bundão e pediu para que eu fizesse um pedido pela data, eu disse no ouvido dele que ele já podia ir embora com muita dor no coração. depois do dia 13 ele piorou muito. Só se levantava com ajuda e andava com apoio.

Tinhamos que lava-lo diversas vezes ao dia, pois não segurava mais seu xixi nem seu cocô. na sexta feira foi o ultimo dia que ele aceitou a ração, no sábado de manhã fiz carne moída com arroz, a qual foi sua ultima refeição, comeu apenas um pires, já não conseguia mais beber água, tinha que dar água em uma seringa, como no dia em que ele chegou em minha casa. antes de dormir tive uma crise de choro muito grande, pois olhando para ele imóvel, eu via aquele cãozinho bebê que tinha vindo para alegrar a minha vida nos ultimos 17 anos, achei que ele não amanheceria naquele domingo. Mas ele era muito insistente. no domingo eu tomei a pior decisão de minha vida, liguei para o dr. Eduardo sacrificá-lo, foi muito difícil aceitar esse destino para ele, ainda mais eu, que acho uma atrocidade o sacrifício de um ser que não sabe decidir por ele mesmo. resolvi esperar ainda o domingo para ver se deus o levava sozinho, sem sofrimento.

Mas deus não me ouviu. levantei várias vezes para deitar ao seu lado nesta noite, cada vez que deitava ao seu lado ele abanava o rabo bem fraquinho, mas já não conseguia mais nem levantar a cabeça e nem abrir totalmente os olhos. chorou duas vezes a noite, pois queria fazer xixi e uma fez tinha se sujado e não conseguia mais levantar. as oito horas da manhã de hoje (18/04/2005) eu levei meu amado bundão rumo a sua libertação (?!), fiquei do seu lado até o último bater de seu coração.

Mas está difícil conceber esse ato, que não consigo discernir se foi de crueldade ou apenas de libertação daquela alma tão jovem que estava presa naquele corpo que insistia em envelhecer. este relato é para pedir perdão e dizer que ele sempre foi muito especial na minha vida! perdão meu amigo amado, espero que deus um dia me permita te encontrar novamente para poder te abraçar e correr ao teu lado. Te amo!... "fim do comentário"


Não podia passar sem dar um destaque...por mais que leia, não me canso...Bem hajam a todos os amigos...